11.30.2008

Não me mintas

Eu queria unir, as pedras desavindas
Escoras do meu mundo movediço
Aquelas duas pedras, perfeitas e lindas
Das quais eu nasci forte e inteiriço.
Eu queria ter, amarra nesse cais
Para quando o mar ameaça a minha proa
E queria vencer, todos os vendavais
Que se erguem quando o diabo se assoa.


Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber porque dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais


Conta-me os teus truques e fintas
Será que os Nike fazem voar
Diz-me o que sabes, e não me mintas
Ao menos em ti posso confiar
Agora diz-me o que aprendeste
De tanto saltar muros e fronteiras
Olha p'ra mim e vê como cresceste
Com a força bruta das trepadeiras

Põe aqui a mão, sente o deserto
Cheio de culpas que não são minhas
E ainda que nada à volta bata certo
Eu juro ganhar o jogo sem espinhas


Tu querias perceber os pássaros
Voar como o Jardel sobre os centrais
Saber porque dão seda os casulos
Mas isso já eram sonhos a mais

11.10.2008

Chuva

Ouve a chuva. O batimento constante e ritmado nas janelas e no telhado. O quarto está escuro, bem como o resto da casa e ela move-se nas trevas. Há muito que deixou de precisar de luz para se orientar. A posição dos objectos e dos móveis já está gravada nas suas retinas.

A orientação da sala é simples, nem sequer é preciso pensar muito para saber onde está o quê. Os contornos negros e esbatidos, que, apesar de confusos não deixam margem para dúvidas. Ao canto, o piano. Velho, mas mantendo toda a perfeição do primeiro dia. Hoje, e sempre, está mudo e frio. Não é interessante, mas também, já nada o é.

Na zona este, as paredes estão cobertas de estantes, repletas de livros que ninguém lê. As páginas estão semi-apagadas e nas lombadas apenas são visiveis os vestigios de ouro que outrora formaram os títulos. Estes também perderam o interesse.

A parede norte está envidraçada. Repleta de janelas com pesadas cortinas de veludo negro, que outrora teria tido tons mais vivos. Estão abertas, deixando ver para o exterior. Encosta a mão á janela e olha para a chuva que cai lá fora, esbatendo os contornos das frondosas árvores do jardim escuro.

Na parede oposta, a lareira, que em vez de aquecer, apenas contribui para o firo que se faz sentir na sala. Como tudo o resto aqui, está fria e sem cor. Á sua volta, os cadeirões pesados e a mesa baixa. Ninguém se senta aqui há muito.

Suspira e deixa a observação do jardim, voltando-se para a lareira. Pára atrás do cadeirão central e olha-se ao espelho que se encontra sobre a lareira. Não tem reflexo, nem nunca voltará a ter.

Suspira de novo e prossegue o seu caminho pelos corredores. É assim, está destinada a vaguear sem rumo pelos correfores desertos e sem cor durante os dias de chuva.

 

-10.27.2008

10.18.2008

Estátuas

Música. Tocada no piano pelas mãos invisiveis daquele cujo sentir gelou há muito. Sempre tocou. Primeiro para esconder os seus sentimentos, depois para os adormecer.

Ela ouve. Ela, cujas emoções foram enterradas há muito. Sempre gostara de o ouvir. Sempre a fizera deliz. Agora já não sente.

Nenhum deles sente.

Eram perfeitos, duas metades de um todo. Ele, fazia tudo para a ver sorrir. Ela, daria a vida para o ver feliz. O que mudou? Nada...

O tempo passou e as acções, outrora tão importantes, perderam o sentido. As palavras, outrora tão desnecessárias, morreram nos lábios de cada um deles.

Já não sabem quem são, já não sabem quem é a pessoa que amam. Morreram os dois, mas continuam vivos...

A música continua. Ela, qual estátua de mármore branco, observa sem qualquer movimento. Ele toca, mas os seus movimentos são imperceptiveis. À muito que deixaram de ser humanos.

Não, agora já não vivem. Nada mais são que duas estátuas geladas de um amor que também gelou....

10.11.2008

Drop dead, baby girl

Tento olhar-me ao espelho. Não me consigo ver. Não me consigo sentir.

será que estou aqui?

Ando pela rua, por entre a multidão ocupada. Carros, pessoas, bébes a chorar. Está vento, mas eu não o sinto. Salto e abano os braços.

conseguem ver-me?

Tento por-me à frente de uma mulher e da sua filha que caminham na minha direcção. Mas elas passam através de mim. Por isso, eu olho em volta e vou para o meio da rua. E eu salto e grito.

conseguem ouvir-me?

Um carro aproxima-se de mim. Olho para ele e grito 'pára!' mas ele não pára. Observo. Olho o carro e penso que talvez abrande e o adolescente que o conduz seja capaz de me ver ou de me ouvir.

será que eles estão aqui?

O carro aproxima-se. A música está no máximo e ele está a falar ao telemóvel. Não me olha. Não me vê. Não me presta atenção.

será que é cego?

Olho para a direita e vejo uma menina a caminhar pela rua sozinha. A sua mãe virou-lhe as costas para gritar ao telefone sobre uma estúpida reunião e coisas do género. Preocupada com o trabalho... sem tomar conta da sua pequena filha.

A miudinha vê uma flor morta no meio da estrada. Avança para a flor, baixando-se para a apanhar com as suas pequenas mãos. Sou capaz se jurar que ela acabou de olhar para mim. Que me olhou olhos nos olhos e que me sorriu. E o condutor aproxima-se cada vez mais. Apenas posso observar sem sentir o que esta a acontecer...

O jovem olha para a estrada e os seus olhos abrem-se com o terror. O seu batimento cardiaco aumenta e o seu coração desce-lhe aos pés assim que pisa o travão com toda a força.

mas é, sem dúvida, tarde de mais.

Agora, a mãe presta atenção à sua filha. A sua menina está magoada. A sua menina está a sangrar.

a sua menina pode estar morta.

Posso ouvir os gritos e os berros e as sirenes. Vejo um policia e dois paramédicos a correr para a miudinha. Consigo sentir o seu sange. Consigo sentir a dor. Consigo sentir a solidão. Consigo sentir o silêncio.

Está morto. Não o silêncio, mas eu. Eu estou morta. Consigo senti-lo e doi demais. Estou coberta de sangue. O meu próprio sangue. EU estou no chão e olho para cima.

A menina está bem, ferida, mas bem. Eu não. E então vejo e ouço a mãe. Ela diz:

"Obrigada! Ó meu Deus! Muito obrigada!" Diz ela com a voz distorcida pelo choro e os policias seguram-na quando ela tenta aproximar-se de mim.

Continuo deitada no chão e sinto uma especie de lençol a ser posto por cima de mim.

estou morta. mas acordada

Salvei a rapariga quando ninguém a via. Salvei-a quando ninguém me via. Foi aí que me apercebi de que, quer eu quer ela, eramos invisiveis. Mas não uma para a outra.

Salvámo-nos uma à outra. Ela salvou-me e eu salvei-a. estrada

Why me?


I’m something weird,
Something with a name, abstract
You know who I am
but you don’t know me
You support me
but you don’t help me
I’m something known
but truly unknown
I’m faithful
but a traitor
Beautiful on the outside
but ugly inside
Who am I?
Can someone explain me?
I don’t know myself…
Do I have abilities’ ?
I don’t think so….

Am I real?

Do I breath? Can I feel?

I'm nothing, but whole...

I'm you, I'm me

I'm free...

7.05.2008

Kristen stewart

há quem diga que esta é uma das melhores actrizes da nossa geração. Consigo perceber porque, ela é mesmo boa a representar e também canta bem

Steven Strait


Steven Strait - Bom actor, Bom Cantor e Giro


6.22.2008

Olhares...

benchesSenta-se sozinho, sempre sozinho. Ninguém sabe à quanto tempo, ninguém sabe porquê. Sabem apenas que aquele é o seu banco e que mais ninguém se senta lá. Apenas ele, sozinho. A roupa, igual a muitas; a cara, a nenhumas; os olhos... os olhos não podem ser descritos.

Todo ele é silêncio e, quando se senta no banco, parece criar uma aura impenetravel à sua volta. É assim, as pessoas passam, os carros passam, o tempo passa... só ele se mantém. Ele e o seu ritual, repetido diariamente. Por quem esperará? Sobre que pensará? Ninguém sabe e ninguém pergunta.

Por vezes, levanta a cabeça de uma qualque r prece muda e olha o céu e a multidão em movimento, como se procurasse uma razão para tanta solidão no mundo. E, por vezes, o seu olhar cruza-se com o de alguém que passa com passo apressado, procurando cumprir um horário demasiado apertado.

Dizem que é um olhar sábio, mais sábio do que se pode imaginar, e também sombrio, capaz de fazer gelar o sangue nas veias.

Dizem também que as pessoas que cruzam o olhar com o dele nunca mais são as mesmas. Algumas desistem de tudo e tornam-se em ocupantes de bancos de jardim, tal como o seu criador. Outras, ficam loucas e afirmam ver algo mais naquele olhar. Algo demoníaco, algo sobrenatural.

Quer umas quer outras nunca voltam ao que foram antes. Ninguém sabe quando é que ele vai erger novamente a sua cabeça e nos vai fitar com esses olhos. Pode ser hoje, amanhã ou daqui a um ano, mas que ele o faz, faz.

Pode ser que os escolha, pode ser obra do acaso, mas se é para nós que olha não há volta a dar. A marca está feita.

A história, se é lenda ou facto não sei. Mas, o homem continua sentado no seu banco, mudando uma pessoa de cada vez.

-que tal?

6.16.2008

Ai campo aventura, és o campo que eu mais queria...

Como há coisas que n se esquecem e como há posts que vale a pena repetir, eu vou voltar a falar do assunto: Campo Aventura. As saudades apertam, principalmente agora que o ano está a acabar... foram talvez 3 dos melhores dias da minha vida, principalmente porque voltamos a ver o 9ºB ligeiramente mais unido. Sim, porque a turma B tinha-se vindo a separar, bastante.

 

Foi uma experiencia marcante sem dúvida.... e claro foi muito triste a despedida. E de facto eles disseram que nunca tinham tido um grupo como o nosso. Pode ter sido apenas mostra de fleuma, para parecer bem e tal, mas prefiro pensar que não.

6.01.2008

Do not stand at my grave and weep

creepy tree

Do not stand at my grave and weep,
I am not there, I do not sleep.

I am a thousand winds that blow.
I am the diamond glint on snow.
I am the sunlight on ripened grain.
I am the gentle autumn rain.


When you wake in the morning hush,
I am the swift, uplifting rush
Of quiet birds in circling flight.
I am the soft starlight at night.


Do not stand at my grave and weep.
I am not there, I do not sleep.
(Do not stand at my grave and cry.
I am not there, I did not die!)

                                                -Mary Frye (1932)

5.14.2008

A Dor Da Partida

Um daqueles textos que é escrito em cima do joelho mas que fica espetacular

Uma brisa suave balança as folhas dos grandes carvalhos. Os pássaros cantam suavemente. Ao longe, corre um regato. Fecho os olhos; é sempre tão bom estar aqui...
Lembro-me da minha mãe, quando aínda era viva, de como costumava trazer-me aqui e de como costumava cantar para mim. Apesar de ter morrido quando eu só tinha 4 anos e, apesar de ter muito poucas recordações desse tempo, ainda me lembro do cheiro do cabelo dela, do timbre da sua voz, da sensação de conforto e de calor quando me abraçava. Lembro-me também do clarão das chamas, na noite em que irromperam na nossa casa como um vendaval; lembro-me do grito dela que, às vezes ainda me faz acordar com suores frios; lembro-me da expressão da cara do meu pai, quando não a conseguiu salvar. Lembro-me de tudo e, apesar do que me faz sentir, nunca esqueço, não vale a pena.
O meu pai quase nos proíbiu de falar nela. Basta mencioná-la para que mude logo de assunto. Quando são os meus irmãos até deixa passar, mas quando sou eu.... se os olhares matassem, acho que já tinha morrido uma dúzia de vezes.
Há alturas em que ele chega ao ponto de evitar olhar-me nos olhos, como se tivesse medo de que, bem lá no fundo, esteja a minha mãe a culpá-lo por não a ter salvo. Acho que me castiga tanto por isso; porque fui eu a culpada pela morte dela. Foi por minha causa que ela ficou para trás e por minha causa que ele não a consegui salvar.
Todos os anos, no aniversário dela, venho a este parque, e, não sei porquê, é como se ouvisse a voz dela, de cada vez que o vento sopra por entre as folhas.

Num dia sem inspiração e por obrigação tive de fazer isto... e ficou assim.

O poema

Her skin is white cloth,
and she's all sewn apart
and she has many colored pins
sticking out of her heart.
She has a beautifull set
Of hypno-disk eyes
The ones that she uses
To hypnotize guys
She has many different zombies
who are deeply in her trance.
She even has a zombie
who was originally from France.
But she knows she has a curse on her,
a curse she cannot win.
For if someone gets
too close to her,
the pins stick farther in.

Tim Burton's Voodoo Girl

2.12.2008

felicidade estúpida

novo blog!!! yupi!!!! o antigo era uma bodega.... era muito formal, cheio de textos filosóficos e cenas.... bem, o nome do post n tem nada haver com aquilo que sinto, com um teste intermédio amanhã (eu aqui a postar, quando devia tar a marrar quimica...)
Mas, o estranho é que ando extremamente feliz, o que torna a minha felicidade muito estúpida... bué alegre que ando, muito ao contrário da minha personalidade...
enfim, não se pode dizer que seja uma pessoa muito normal.
mas, de qualquer das formas, a greve dos argumentistas acabou, deve ser por isso


beijinhos