10.18.2008

Estátuas

Música. Tocada no piano pelas mãos invisiveis daquele cujo sentir gelou há muito. Sempre tocou. Primeiro para esconder os seus sentimentos, depois para os adormecer.

Ela ouve. Ela, cujas emoções foram enterradas há muito. Sempre gostara de o ouvir. Sempre a fizera deliz. Agora já não sente.

Nenhum deles sente.

Eram perfeitos, duas metades de um todo. Ele, fazia tudo para a ver sorrir. Ela, daria a vida para o ver feliz. O que mudou? Nada...

O tempo passou e as acções, outrora tão importantes, perderam o sentido. As palavras, outrora tão desnecessárias, morreram nos lábios de cada um deles.

Já não sabem quem são, já não sabem quem é a pessoa que amam. Morreram os dois, mas continuam vivos...

A música continua. Ela, qual estátua de mármore branco, observa sem qualquer movimento. Ele toca, mas os seus movimentos são imperceptiveis. À muito que deixaram de ser humanos.

Não, agora já não vivem. Nada mais são que duas estátuas geladas de um amor que também gelou....

10.11.2008

Drop dead, baby girl

Tento olhar-me ao espelho. Não me consigo ver. Não me consigo sentir.

será que estou aqui?

Ando pela rua, por entre a multidão ocupada. Carros, pessoas, bébes a chorar. Está vento, mas eu não o sinto. Salto e abano os braços.

conseguem ver-me?

Tento por-me à frente de uma mulher e da sua filha que caminham na minha direcção. Mas elas passam através de mim. Por isso, eu olho em volta e vou para o meio da rua. E eu salto e grito.

conseguem ouvir-me?

Um carro aproxima-se de mim. Olho para ele e grito 'pára!' mas ele não pára. Observo. Olho o carro e penso que talvez abrande e o adolescente que o conduz seja capaz de me ver ou de me ouvir.

será que eles estão aqui?

O carro aproxima-se. A música está no máximo e ele está a falar ao telemóvel. Não me olha. Não me vê. Não me presta atenção.

será que é cego?

Olho para a direita e vejo uma menina a caminhar pela rua sozinha. A sua mãe virou-lhe as costas para gritar ao telefone sobre uma estúpida reunião e coisas do género. Preocupada com o trabalho... sem tomar conta da sua pequena filha.

A miudinha vê uma flor morta no meio da estrada. Avança para a flor, baixando-se para a apanhar com as suas pequenas mãos. Sou capaz se jurar que ela acabou de olhar para mim. Que me olhou olhos nos olhos e que me sorriu. E o condutor aproxima-se cada vez mais. Apenas posso observar sem sentir o que esta a acontecer...

O jovem olha para a estrada e os seus olhos abrem-se com o terror. O seu batimento cardiaco aumenta e o seu coração desce-lhe aos pés assim que pisa o travão com toda a força.

mas é, sem dúvida, tarde de mais.

Agora, a mãe presta atenção à sua filha. A sua menina está magoada. A sua menina está a sangrar.

a sua menina pode estar morta.

Posso ouvir os gritos e os berros e as sirenes. Vejo um policia e dois paramédicos a correr para a miudinha. Consigo sentir o seu sange. Consigo sentir a dor. Consigo sentir a solidão. Consigo sentir o silêncio.

Está morto. Não o silêncio, mas eu. Eu estou morta. Consigo senti-lo e doi demais. Estou coberta de sangue. O meu próprio sangue. EU estou no chão e olho para cima.

A menina está bem, ferida, mas bem. Eu não. E então vejo e ouço a mãe. Ela diz:

"Obrigada! Ó meu Deus! Muito obrigada!" Diz ela com a voz distorcida pelo choro e os policias seguram-na quando ela tenta aproximar-se de mim.

Continuo deitada no chão e sinto uma especie de lençol a ser posto por cima de mim.

estou morta. mas acordada

Salvei a rapariga quando ninguém a via. Salvei-a quando ninguém me via. Foi aí que me apercebi de que, quer eu quer ela, eramos invisiveis. Mas não uma para a outra.

Salvámo-nos uma à outra. Ela salvou-me e eu salvei-a. estrada

Why me?


I’m something weird,
Something with a name, abstract
You know who I am
but you don’t know me
You support me
but you don’t help me
I’m something known
but truly unknown
I’m faithful
but a traitor
Beautiful on the outside
but ugly inside
Who am I?
Can someone explain me?
I don’t know myself…
Do I have abilities’ ?
I don’t think so….

Am I real?

Do I breath? Can I feel?

I'm nothing, but whole...

I'm you, I'm me

I'm free...