9.07.2010

moonligth #2

Passara os últimos momentos a tentar dormir. Tentar era a palavra chave aqui, até porque não estava a conseguir. Mas tinha a certeza de ter ouvido algo no andar de baixo. O que não era assim tão anormal, tendo em conta que estava calor, e que de certeza alguém teria acordado a meio da noite para ir beber qualquer coisa. Perfeito. Explicado. Volta a dormir que ao menos não pensas mais no calor.

Nope. Não resultava.

Ficou calado, a contemplar o tecto do quarto, na esperança de ouvir qualquer barulho que lhe indicasse que alguém voltara a subir as escadas mas quanto mais se esforçava menos ouvia. Bolas. Se havia expressão que não gostava de usar era 'estar com os calores' mas verdade seja dita, agora estava com os calores. Quer porque estava um calor insuportável, quer porque estava a ficar enervado. A sério, se se levantasse e fosse dar com alguém descansadinho da vida na cozinha, tinha um ataque.

Mas em fim, não haveriam muitos 'ses' porque acabou por se levantar, exalando ruidosamente (ao contrário da anterior vítima de insónias, estava-se bem nas tintas para discrição apesar de, tal como ela, ser perfeitamente capaz de passar despercebido). Se fosse um dos putos... estava capaz de os matar. Se fosse um deles. Passou-lhe pela cabeça que pudesse ser ela, mas descartou o pensamento com a mesma rapidez. Afinal de contas, ela não costumava levantar-se a meio da noite. Não que ele estivesse propriamente acordado para andar a vigiar... ou que passassem assim tanto tempo juntos.

Desceu as escadas calmamente, esperando pelo momento em que a luz proveniente do andar de baixo começasse a surgir... infelizmente, isso não aconteceu... começou a ficar preocupado, mas depois reconsiderou... afinal a casa era conhecida de todos, eram todos perfeitamente capazes de se orientarem no escuro. Excepto, talvez, uma pessoa. O que deixava outras sete possibilidades. Chegado ao ultimo degrau, deparou-se com algo que não estava a espera, uma cozinha vazia. Ora aí estava algo preocupante. Porque ou estava a ouvir coisas (possibilidade que não riscava da sua lista, apesar de ser altamente improvável tendo em conta diversos factores). Ou algo ou alguém se anda a movimentar por onde não devia.

Bem, mas o melhor era tentar pôr tudo em pratos limpos. E então saiu para a rua.

E então viu-a.

7.14.2010

Insónias

- O que é que ainda estás aqui a fazer?

- Não consigo dormir...

- Não consegues ou não queres?

- Não é tudo igual? Estou aqui em vez de estar a dormir, importa porquê?

- Por acaso, até importa, a motivação é a chave de tudo. E não conseguir é muito diferente de não querer, se bem que inconscientemente um possa levar ao outro...

- Pronto, lá estás tu com essas tretas psicológicas... vai ver se está mais alguém acordado a quem possas impingir isso... que eu, nem vontade nem paciência.

- Chiça, que tu hoje estás com um humorzinho... está aqui um tipo preocupado contigo e tu trata-lo com duas pedras na mão.

- A sério meu. Hoje não tenho paciência para ninguém. Agradeço a tua preocupação mas...

- Pára.

- Oi?

- Com esses teus festivais de auto-comiseração. Já enjoa um bocado ok? Não podes andar sempre com o mundo todo ás costas, e muito menos culpar-te por tudo o que acontece de menos bom. Não é como se pudesses ter feito grande coisa, e estares aqui a gelar ao frio e a privar-te de horas de sono não vai mudar nada. Até porque és uma óptima pessoa e...

- ...

- Olha, adormeceu.
I'm sick and tired of all of this... You. You are the worst of them all. I don't care if they tell me you're on our side, I don't care if you may be our most important ally... to me, you're the worst of enemies.

Can't you see it? He died because of you! He didn't want to fight, he didn't want to be like you. And yet he did it. Because of you! He said he wanted to protect you, to be there for you. Even if it mean... even if it meant giving up all his hopes and dreams. He just wanted to be there for you.

Say something, God damn it! Face his dead body! You can't? Of course you can't. You're a coward, a coward hiding behind a mask. He died because of you and you don't even care. Did he meant that little to you? Did he? He lived his whole life for you, and you don't even feel a thing... you're disgusting.

I'll say it again. You're worst then them.

6.27.2010

Moonlight. #1

Tinha sido um daqueles dias demasiado quentes. Um daqueles dias em que nem sequer se tem vontade de mexer, pois qualquer movimento apenas aumenta o calor que se sente.
Era uma daquelas noites demasiado quentes, em que custa a respirar e nem ficando completamente parados conseguimos parar de sentir calor. Em que a pele fica pegajosa ao tacto e só nos apetece tomar duche gelado atrás de duche gelado.

Ela, pelo menos, sentia-se assim. E não gostava minimamente da sensação. Desde pequena que odiava o calor. Não o Verão, porque até gostava de ver o céu azul e tudo, mas o calor. Não conseguia funcionar com calor, parecia que o cérebro lhe tinha derretido, não tinha posição para estar, e quanto mais tentava ficar fresca, mais calor tinha.

E, infelizmente, tinha tido a sorte de ficar no quarto do último andar, que não era bem um quarto... era mais o sótão da casa, mas tinha sido convertido em quarto por causa dela. Ás vezes, ser rapariga tinha as suas vantagens, mas não neste momento. Normalmente, não se importava de dormir naquele espaço, tendo em conta que ficava suficientemente afastada dos três idiotas, dois dos quais eram irmãos dela. O outro? Bem, o outro era um irmão emprestado, por assim dizer. Mas isso não lhe curava a idiotice, apesar de ser um bom atributo. Mas isso não importava minimamente agora, aliás, agora, a única coisa de que queria saber era da probabilidade de entrar em combustão espontânea. Adorava aquele quarto, mas no Verão, no Verão desejava ter guelras, para poder dormir debaixo de água, no pequeno lago que havia na propriedade. Mas, não tinha tanta sorte assim.

Virou-se na cama pela milionésima vez naquela noite (ou, pelo menos, assim lhe parecia), e suspirou. Tinha os pés a escaldar. Não conseguia dormir com os pés quentes. Deixou escapar um som que poderia passar muito bem por um rosnado, e desistiu. Atirou os lençóis para trás, e balançou as pernas para fora da cama. Não, hoje não iria dormir grande coisa. Por um momento, ficou ali sentada, observando a claridade da lua a entrar pela janela aberta. Tinha a aberto antes de se deitar, na vã esperança de que alguma brisa quisesse entrar e refrescar o espaço. As cortinas não se mexiam nem um milímetro.

Suspirou mais uma vez e levantou-se, os pés quentes tocaram na madeira do chão, também ela quente. Por um momento, perguntou-se se seria possível que a casa derretesse, tal era o calor. O pensamento fê-la sorrir. Realmente, o cérebro dela parava com o calor.

Desceu as escadas lentamente, não querendo acordar ninguém... já era mau demais estar com calor, não queria ter de lidar com as repercussões do seu pequeno passeio. Sim, porque o pai dela nunca achara muita piada a esse tipo de coisas, mas também não o podia censurar. Se um dos putos (nome afectuoso, note-se) desaparecesse assim sem mais nem menos, ela passava-se. Mas, o que eles não sabem não os pode magoar, e, se tudo corresse bem, não seria descoberta. Pelo menos, não fora de casa, onde as desculpas seriam mais difíceis de arranjar. Para além disso, queria estar sozinha. O calor não a deixava muito amigável.

Um arranhar de pequenas garras sobre o soalho sobressaltou-a, e rezou para que mais ninguém o ouvisse. A pequena Labrador preta tinha tendência a estragar os melhores planos. "Scout", murmurou, quase de forma inaudível, "volta lá para dentro", e apontou para o quarto dos seus irmãos. A pequena cadela olhou para ela com olhos tristes, mas, incrivelmente, fez o que lhe mandaram. Ora aí estava uma coisa que não estava habituada a ver. Não que se estivesse a queixar. Por um momento, ficou imóvel no meio do corredor. Contou as respirações, todas elas indicadoras que todos continuavam a dormir. Óptimo.

Desceu um novo lance de escadas até ao andar térreo, que sempre fora o mais fresco da casa. Mas ainda assim, quente demais para o gosto dela. E então bateu com um pé numa das cadeiras. "Merda". Saiu-lhe muito mais alto do que pretendia, e acabou por cobrir a boca com ambas as mãos, como se pretendesse agarrar o som. Mais uma vez, escutou o andar de cima em busca de algo que lhe indicasse que tinha acordado alguém. Mais uma vez, ouviu apenas o animador silêncio. Bolas, ninguém diria que todos eles tinham aquele tipo de dormir... Normalmente, ficavam alerta ao mínimo ruído. Quem sabe, talvez a protecção fornecida por aquele lugar lhes permitisse dormir descansados.

Finalmente, conseguiu sair para o exterior. Continuava calor, mas talvez por estar num espaço aberto se sentisse ligeiramente melhor. A luz da lua incidiu na sua pele descoberta - que era bastante, considerando que dormia num par de calções curtos e num top - fazendo-a parecer brilhar. Sempre odiara o seu tom de pele. Não tinha a mesma sorte do seu irmão, que ficava moreno ao mínimo toque de sol. Não, ela tinha de ser pálida como um fantasma. Riu-se com a ironia do seu próprio pensamento, e deu impulso às pernas para se mover em frente. Os pés, ainda descalços, tocaram na relva que lhe pareceu estranhamente (e agradavelmente) fresca. Um sorriso esboçou-se no seu rosto, e não demorou muito a deitar-se de barriga para cima nessa frescura, de forma a poder olhar as estrelas.

Estava mesmo capaz de adormecer.

5.22.2010

no more dreaming like a girl...
so in love with the wrong world


 Eu sabia... aliás, eu sempre soube. Sempre soube que não valeria a pena... bem cá no fundo eu sabia, apesar de ter mantido a crença abafada, apesar de a ter tentado ignorar. Porque queria muito ser como os outros, ser 'normal'. Fazer parte desses muitos felizardos que vivem na ignorância. E por isso, ingenuamente, como uma criancinha, fui acreditando. Convencendo-me a cada dia que passava que não havia problemas, que era possível.

E  consegui-o. Durante algum tempo consegui aquele equilíbro precário entre o real e o criado, entre um mundo e o outro... e estava feliz.

Fui egoísta. Pensei que seria assim tão simples, mas não foi. Nunca é... e por minha culpa, minha e da minha vontade de pertencer magoei quem amava. Quem amo. Por causa desta minha estupidez. Devia ter percebido, devia ter compreendido. Não vale a pena fugir pois não? Estamos destinados a perder tudo não é? Devemos estar amaldiçoados...

Não é justo, porra. Não é justo. Ele não merecia... que fosse eu, tudo bem. Era o MEU erro, era EU que devia pagar... não ele. Porque é que o tive de perder? Não é justo. E o pior é que ele sabia... sabia quem eu era. Quem eu sou. Mas não quis saber. Idiota. Ele e eu. Dois tolos.

Afinal... a culpa foi minha por sonhar com um mundo que não era o meu.

5.03.2010

porque agora vou falar. e vais ouvir-me, quer queiras, quer não. sim, porque eu estou farta disto. de tudo isto. de comer e calar. de fazer o que dizes, não o que fazes. o quê? pensavas que ia aturar isto para sempre? só se fosse parva, idiota. e fui. ou, pelo menos, fui cega, e não quis ver a verdade quando me dançava a frente dos olhos. acho que no fundo, no fundo, fui ingénua. e tola, ao acreditar em tudo o que me dizias. quantas foram, afinal? sim, quantas? as que tal como eu caíram nas tuas falinhas mansas, e compraram cada palavra falsa que dizias, pedindo mais no fim... eu, para variar, tinha de ser como as outras. eu que até me orgulhava de dizer que não, que não me deixava levar assim tão facilmente. eu que dizia que nunca deixaria que me acontecesse uma coisa dessas. e afinal... afinal fui mais uma no teu pequeno jogo. dá-me vontade de rir. porque qualquer um seria capaz de ver por detrás dessa tua máscara tão cuidada, e eu não. e aposto que se riram de mim. aposto mesmo. devo ter sido motivo de gozo por todo o lado. eu, que me dizia diferente, afinal era tão cega como as outras. afinal, deixava-me levar facilmente por palavras doces e um sorriso pintado. e depois, mesmo sabendo que não dava mais, que tudo não passava de um engano, que afinal não era diferente de ninguém, o meu orgulho não me permitia dar o braço a torcer, não. eu sempre fora a última a ceder, tão teimosa como os burros, como se costuma dizer. mas os burros são criaturas inteligentes, e eu, tão certa da minha posição, mesmo já sabendo, recusei-me a ver. mas sabes que mais? tudo o que é demais enjoa e eu estou farta. não quero saber mais, pronto. porque gozada, já não vou ser. e tu, e tu, meu menino, vais pagá-las todas juntas. e se eu for, tu também vais. porque assim, ao menos, não te ficas a rir de mim.

4.06.2010

pode a verdade estar na boca das crianças, mas para a dizerem têm de crescer primeiro, e então passam a mentir

4.05.2010

- hei

- ...

-  como é que te estás a aguentar?

- ...

- queres falar de uma vez por todas? olha, eu já estou fino, ok? e o teu pai? o teu pai é um gajo rijo, ele aguenta.

- ...

- importas-te de parar com isso?

- não me lembro...

- uh?

- não me lembro de nada. por muito mais esforço que faça está tudo em branco. desde que me disseste... o que me disseste, até a um bocado, quando ficou tudo bem - um riso amargo escapa-se-lhe sem querer. não, não estava nada bem.

- mas...

- precisamente. eu sei que fiz algo, sei que os ajudei a tirar o meu pai de lá. mas é quase como se tivesse entrado em piloto automático, sabes?

- faz sentido.

- como?

- epá, o teu irmão. disse que tu tavas esquisita pra caramba. com os olhos vidrados ou algo do género. enfim, mais assustadora que o costum-ouch!

 - mais assustadora que o o costume. muito engraçado

- eh, eu faço os possíveis

- damien?

- oi?

- obrigada

3.30.2010

ignorance is bliss

porque será que nos recusamos a ver a verdade mesmo quando ela está à nossa frente? seremos tão egoístas que apenas desejamos ver aquilo que queremos, ignorando tudo o resto? porque parece que gostamos de fingir que está tudo bem. não, não parece, gostamos mesmo. tudo tem de estar numa perfeição imaculada, numa rotina desenhada com cuidado de forma a evitar todo o tipo de anomalia ou fuga ao padrão. porque os nossos olhos, o nosso ser, filtra a realidade, ajustando-a, recusando-se a ver. pintamos o mundo de cor-de-rosa, usamos lentes mágicas que cobrem o que é estranho. e por isso o estranho é tão estranho, porque as lentes deixaram de funcionar, porque a pintura começa a descascar. e isso é inadmissível, inaceitável. porque o que é diferente não cabe no mundo perfeito pintado de cor-de-rosa. é feio, não cabe e por isso deve ser removido. então fechamos os olhos, e tudo volta a ser perfeito. os problemas escondem-se nas sombras e deixamos de os ver, voltando às nossas rotinas perfeitas. ignorance is bliss

3.25.2010

How Long?

How long until you notice me?
                     until I'm no longer invisible?
                     until I'm no longer unheard?
                     until I find thee courage to be me?
                     until I manage to tell you the truth?
                     until you believe me?

How longer must I wait until I can finally be taken seriously for who I am? Until people stop looking past me, and seeing me as something as I'm not. How long must I wait for someone to free me... to free myself.

I'm sick and tired of waiting.

2.28.2010

Morning after dark



When the cats come out the bats come out to playy Yeahh
In the morning after
The dawn is here, be gone be on your wayy Yeahh
In the morning after
When the cats come out the bats come out to playy Yeahh
In the morning after
The dawn is here, be gone be on your wayy Yeahh
In the morning after Dark

2.11.2010

- acho que vou bazar...

- o quê?

- vou bazar.

- mas vais bazar pra onde?

- sei lá eu...

- então e vais bazar?

- mas tu és surdo ou lento? já te disse que vou bazar, pronto.

- ok...

- é só isso que dizes, ok?

- que queres que eu diga?

- sei lá...

- então...

- então o quê? estou eu para aqui a dizer que me vou embora de vez, talvez nunca mais volte e a única coisa que tu sabes dizer é 'ok'?

- ...

-  ...

- olha

- o que é?

- posso ir contigo?

1.09.2010

Fairy tales do not tell children the dragons exist.
             Children already know that dragons exist.




Fairy tales tell children the dragons can be killed.


-G. K. Chesterton

1.02.2010

Someday

 

I got me a 67 Chevy, she's low and sleek and black
Someday I'll put her on that interstate and never look back

Someday I'm finally gonna let go
'Cause I know there's a better way
And I wanna know what's over that rainbow
I'm gonna get out of here someday