5.03.2010

porque agora vou falar. e vais ouvir-me, quer queiras, quer não. sim, porque eu estou farta disto. de tudo isto. de comer e calar. de fazer o que dizes, não o que fazes. o quê? pensavas que ia aturar isto para sempre? só se fosse parva, idiota. e fui. ou, pelo menos, fui cega, e não quis ver a verdade quando me dançava a frente dos olhos. acho que no fundo, no fundo, fui ingénua. e tola, ao acreditar em tudo o que me dizias. quantas foram, afinal? sim, quantas? as que tal como eu caíram nas tuas falinhas mansas, e compraram cada palavra falsa que dizias, pedindo mais no fim... eu, para variar, tinha de ser como as outras. eu que até me orgulhava de dizer que não, que não me deixava levar assim tão facilmente. eu que dizia que nunca deixaria que me acontecesse uma coisa dessas. e afinal... afinal fui mais uma no teu pequeno jogo. dá-me vontade de rir. porque qualquer um seria capaz de ver por detrás dessa tua máscara tão cuidada, e eu não. e aposto que se riram de mim. aposto mesmo. devo ter sido motivo de gozo por todo o lado. eu, que me dizia diferente, afinal era tão cega como as outras. afinal, deixava-me levar facilmente por palavras doces e um sorriso pintado. e depois, mesmo sabendo que não dava mais, que tudo não passava de um engano, que afinal não era diferente de ninguém, o meu orgulho não me permitia dar o braço a torcer, não. eu sempre fora a última a ceder, tão teimosa como os burros, como se costuma dizer. mas os burros são criaturas inteligentes, e eu, tão certa da minha posição, mesmo já sabendo, recusei-me a ver. mas sabes que mais? tudo o que é demais enjoa e eu estou farta. não quero saber mais, pronto. porque gozada, já não vou ser. e tu, e tu, meu menino, vais pagá-las todas juntas. e se eu for, tu também vais. porque assim, ao menos, não te ficas a rir de mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário