nunca pensara muito nos seus sonhos… nunca pensara sequer ter um, e sempre achara estranho ouvir as outras pessoas falar das suas esperanças para o futuro e daquilo que gostariam de vir a fazer. todas essas conversas lhe pareciam estranhamente ocas, como se todas as palavras não passassem disso, palavras, que não têm qualquer influência sobre nada.
por isso, nunca sonhou. e, por isso, a morte que lhe bateu à porta tão cedo não lhe causou qualquer transtorno. o facto de ter sido brutalmente assassinada não a incomodou minimamente. tampouco o facto de ter sido encontrada, praticamente azul, numa poça do seu próprio sangue, os olhos fitando sem ver o céu a fez perder a calma… estava morta, e que diferença fazia?
mas houve uma coisa que a incomodou… uma pequena coisa, que poderia facilmente passar despercebida… ninguém compareceu no seu funeral, excepto a família (ou pelo menos assim o pensava ela)… mas não era como se estivesse a espera de outra coisa. afinal, ela não era propriamente alguém que gostava de estar com as outras pessoas.... o que a incomodou foi o facto de estar errada, e de não ter só a sua família presente. nunca o tinha visto, ou melhor, nunca se tinha dado com ele. trocaram algumas palavras, mas só isso…
então, porque estava ele ali? e mais, porque estava ele vestido de negro e com aquele ar tão infeliz? não fazia sentido… e isso perturbou-a… pela primeira vez, sentiu raiva de ter morrido, raiva de nunca ter querido viver…
porque, afinal, mesmo que ela não sonhasse, alguém sonhava com ela…
You must not think me necessarily foolish because I am facetious, nor will I consider you necessarily wise because you are grave.
9.14.2009
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