Senta-se sozinho, sempre sozinho. Ninguém sabe à quanto tempo, ninguém sabe porquê. Sabem apenas que aquele é o seu banco e que mais ninguém se senta lá. Apenas ele, sozinho. A roupa, igual a muitas; a cara, a nenhumas; os olhos... os olhos não podem ser descritos.
Todo ele é silêncio e, quando se senta no banco, parece criar uma aura impenetravel à sua volta. É assim, as pessoas passam, os carros passam, o tempo passa... só ele se mantém. Ele e o seu ritual, repetido diariamente. Por quem esperará? Sobre que pensará? Ninguém sabe e ninguém pergunta.
Por vezes, levanta a cabeça de uma qualque r prece muda e olha o céu e a multidão em movimento, como se procurasse uma razão para tanta solidão no mundo. E, por vezes, o seu olhar cruza-se com o de alguém que passa com passo apressado, procurando cumprir um horário demasiado apertado.
Dizem que é um olhar sábio, mais sábio do que se pode imaginar, e também sombrio, capaz de fazer gelar o sangue nas veias.
Dizem também que as pessoas que cruzam o olhar com o dele nunca mais são as mesmas. Algumas desistem de tudo e tornam-se em ocupantes de bancos de jardim, tal como o seu criador. Outras, ficam loucas e afirmam ver algo mais naquele olhar. Algo demoníaco, algo sobrenatural.
Quer umas quer outras nunca voltam ao que foram antes. Ninguém sabe quando é que ele vai erger novamente a sua cabeça e nos vai fitar com esses olhos. Pode ser hoje, amanhã ou daqui a um ano, mas que ele o faz, faz.
Pode ser que os escolha, pode ser obra do acaso, mas se é para nós que olha não há volta a dar. A marca está feita.
A história, se é lenda ou facto não sei. Mas, o homem continua sentado no seu banco, mudando uma pessoa de cada vez.
-que tal?